PROFESSOR JORGE ARRUDA, SECRETÁRIO DO CEPIR-COMITÊ ESTADUAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL
Pernambuco tem, pela primeira vez, um serviço específico para cuidar do combate às desigualdades raciais. O Governo do Estado, em parceria com diversas secretarias estaduais, criou o Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Étnico-Racial (Cepir), que tem o objetivo de organizar e concentrar as ações voltadas para a pluralidade pernambucana, principalmente para parcela da população com carência de políticas públicas. As pastas serão as de Educação, Articulação Social, Juventude e Emprego, Mulher, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Defesa Social e Saúde. O secretário-executivo do projeto é o professor Jorge Arruda.
Segundo Jorge Arruda, há o interesse de que seja desenvolvido um plano estadual para a igualdade racial, principalmente, porque , a cada segundo, em Pernambuco, uma pessoa é vítima de discriminação do tipo. O grupo que compõe o Cepir faz reuniões a cada 15 dias,para conclusão do documento que irá nortear a política de combate ao racismo no Estado, a implementação da lei 10.639, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira e a qual prevê a obrigatoriedade do ensinamento da cultura afro e afro-brasileira, nas escolas do País. Todas os grupos étnicos serão representados pelo Cepir, desde negros, a árabes e ciganos, todos terão espaço igual na iniciativam pautando sempre a unidade, em meio à diversidade,conforme deseja o governador Eduardo Campos. É uma conquista histórica para todas as etnias. Nunca houve em Pernambuco uma política específica para a temática da pluralidade racial, como este que está sendo realizado pelo CEPIR. O comitê está instalado no Palácio do Campo das Princesas.
MIGUEL FARIAS, produtor a apresentador do Programa Liberdade de Expressão
DITO D'OSSÓSSI
Sacerdote da Casa de Matriz Africana Ylê Asé Ayrá Adjáossi, fundada em 17 de agosto de 1986 no bairro Alto José do Pinho, Zona Norte do Recife, a Entidade de Cultura Negra Afoxé Ylê de Egbá é oriunda do centro de Candomblé Ilê-Axé? Ayra Ajaóssi, tendo como presidente da agremiação Expedito de Paula Neves (Babalaô), mais conhecido como Dito D'Oxossi. O Ylê de Egbá é formado por vários segmentos que cuidam de sua organização, entre eles o Afoxé, grupo de ritmistas, cantores e compositores responsável pela parte musical da entidade. O Afoxé mescla o toque do "Ijexá" (ritmo afro) a vários outros ritmos das nações yorubás que vieram para o Brasil, resultando arranjos e músicas com interessantes variações rítmicas, dando um "toque" singular à batida do grupo através de xequerês, atabaques, ganzás e agogôs, entre outros instrumentos específicos dessas nações negras. Foi o primeiro afoxé pernambucano a participar da tradicional "Noite dos Tambores Silenciosos", encontro de maracatus-nação que ocorre no carnaval recifiense. Outros segmentos do Ylê de Egbá são o Imalê, grupo formado por ogans alabês (percussionistas de terreiro); o Egbe de Xangô, Sociedade dos Filhos de Xangô (Orixá que representa a Entidade) e o Imalê Mirim, a Ala infantil do afoxé. Destaca-se também a importância do Ilê Axé, templo religioso no qual acontecem todos os ritos ligados à religião negra. A entidade também desenvolve várias atividades comunitárias, educacionais e de preservação da cultura negra, participando de eventos
MÃE JANE DE EGUN NYTÁ
Jane tem 60 anos de vida. colares coloridos e brincos dourados. Maquiagem leve e batom vermelho. Linda! Mãe Jane, Cinqüenta anos de "santo" e um dos símbolos maiores dos Terreiros de Matriz Africana em Pernambuco. Filha de família católica, aluna de colégios de freiras, aos 8 anos diz que começou a receber as primeiras "manifestações". A repressão começou dentro de casa. A sua luta também, Mãe Jane falou de sua ideologia religiosa.. Falou dos seus deuses.
. Mãe Jane possui a 40 anos um Terreiro na Cidade Tabajara, em Olinda: o Ileaxéloya Egunyta. Em quatro décadas viu as mudanças na relação entre os Terreiros e a sociedade - sobretudo dentro das comunidades em que estão instalados. Hoje ela se divide entre religião, política e ações sociais e culturais. Participa ativamente de dezenas de movimentos. Recebe cestas básicas e leite do governo e tem o dever de distribuí-los entre outros centros religiosos. Dentro da sua casa, criou um núcleo de informática para capacitar jovens carentes. E ainda organiza campeonatos de futebol e festas folclóricas (como quadrilhas de São João) na comunidade. Todo esse trabalho tende a se intensificar com o Mapeamentos dos Terreiros, que vem sendo realizado pelo governo do estado - justamente para poder investir no potencial social desses locais. "Ainda assim, sou muito criticada. E ainda há muita repressão contra as religiões de matriz afriacana. Muitos católicos e evangélicos vão ao terreiro, mas não revelam. Como se estivessem fazendo algo errado", conta Mãe Jane.O sincretismo religioso - revelado por Jane - surgiu desde a época da escravidão. A aproximação com o catolicismo foi uma espécie de forma encontrada pelos escravos para resistir a perseguição.
RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA
O conceito de negrofobia, utilizado para explicar um sentimento de temor no imaginário coletivo quando o assunto é religião africana, terreiros de candomblé, cultos de descarrego e outros temas relacionados, revelam um medo incontido das coisas negras, como algo misterioso e medonho. As pessoas alimentam estereótipos de coisas que não conhecem..
A apropriação de termos religiosos em canções populares, como a que ocorre na música Dandalunda, interpretada pela cantora Margareth Menezes, revelam uma nítida massificação do sagrado. Muita gente nem ao menos sabe o que significa dandalunda. O termo – um outro nome para Iemanjá, a mãe de todos os orixás – aparece no refrão da música: ‘dandalunda, maibanda, coque’.
TERREIROS DE CANDOMBLÉ – Taxar cultos negros como algo exótico é, para o educadores uma das idéias que mais agridem as manifestações religiosas de matrizes africanas. O terreiro de candomblé não é uma sala especial de museu, onde um turista pode participar das manifestações para experimentar a religião. Candomblé não é um espetáculo como, muitas vezes, fazem parecer.
Em Pernambuco está sendo feito um mapeamento dos terreiros de candomblé e umbanda para localizá-los para fortalecer a cultura afro e o governo do Estado que criou o CEPIR, está promovendo esse levantamento o que é importante porque muitas casas não têm a isenção fiscal que é de direito das instituições religiosas. O número de brasileiros que tem o candomblé como religião oficial é de mais de três milhões
Candomblé, umbanda e omolocô são religiões de matriz africana expressivas no Brasil, pouco se conheee sobre elas.
Há uma "endemonização" das manifestações que não sejam as oficiais "Não ser cristão nesse país é um peso muito grande" e o Brasil conta com a banalização do sagrado. "O meu sagrado é importante e o do outro não. Até que ponto o Estado contribui para reverter esse quadro."?
Os negros sempre sofreram com a intolerância religiosa porque o Brasil não assume o quanto é plural e diverso, No entanto, o quadro vem mudando, por influência do movimento negro. Hoje os negros não têm mais vergonha de usar suas contas; hoje o povo do santo está mais ereto, com a cabeça erguida
Alguns fatos têm contribuído para que as mudanças ocorram mais ràpidamente
Mobilização dos Religiosos afro-brasileiros e simpatizantes para um olhar mais sensível e atento para o ãmago da Religião africanista;
Valorização da tradição e história oral, preservando as riquezas culturais e a memória coletiva
Incentivo a Pesquisa e história de Lideranças afro-religiosas propiciando organização de acervo, sensibilizando educadores e/ou profissionais em educação para que incluam em projetos pedagógicos a temática etnico-racial religiosa;
Fortalecimento da auto-estima das crianças e adolescentes afr-desecendentes religiuosos, incntivando-os na busca do conhecimento de suas raízes.
Contribuir no processo de resgate de auto-estima e identidade do povo negro impondo barreiras frente a intolerãncia Religiosa e racial;
Respeito aos mais velhos, valorizando sua memória e sabedoria na preservação da cultura e história ancestral;
Consolidação dos terreiros como espaço de resistência, vida, saúde, acolhimento e cuidado com o outro, resgatando desta forma seu verdadeiro papel na sociedade.