Blog: blog da fabs

Visualizando mensagem do blog

Encontro de Design e Tecnologia Digital

Hoje foi um dia produtivo, de muitos contatos e compartilhamento de informações. Graças à querida colega da PUCPR, a professora Luciane Hilu, tive acesso ao 14º EDTED - Encontro de Design e Tecnologia Digital - edição Curitiba.



Logo na chegada, uma certa muvuca na entrada do evento: o time do Atlético Mineiro estava tomando café da manhã num salão bem ao lado do credenciamento. Após receber o crachá, entro no auditório em que o usabilidoido Frederick Van Amstel está ministrando sua palestra: Das interfaces às interações.

Como cheguei um pouco atrasada, a primeira coisa que vejo no telão é a ilustração de um homem mutilado. Frederic está falando sobre controle social. Comenta que no passado, ele era feito desta forma, com a imposição de sofrimentos físicos. E que hoje, como a forma anterior não dá mais resultado, e não porque nos tornamos seres melhores, o controle se dá no psicológico. Viramos prisioneiros de nós mesmos, com a impressão de estarmos sempre vigiados. Citou o Panopticon de Jeremy Bentham, cujo design foi invocado por Foucault (no livro Vigiar e Punir) como metáfora a sociedades disciplinadoras modernas e suas pervasivas inclinações a observar e normalizar. Comentou sobre o Big Brother e os little brothers, os espectadores, e provocou a platéia finalizando com uma chamada para mudança, para que não mais usemos nós mesmos as tecnologias como forma de controle. Para que sejamos nós mesmos a mudança, enfim. Sua fala me lembrou um post de Ana Carolina Moreno sobre também nós mesmos sermos os urubus de tragédias, e não apenas os jornalistas que as cobrem. Ao som de "Sociedade Alternativa" de Raul Seixas, termina sua exposição e convida ao debate. Pouca gente fica na sala, mas uma boa troca acontece, e várias pessoas expõem seu ponto de vista. O assunto que mais rendeu foi sobre um caso típico do orkut, em que uma mulher, fuçando no perfil de um colega, vê o botão "lista de paquera" e pensa que clicando ali verá a lista de paqueras dele. Ela clica, a página é recarregada, mas nada acontece. Então ela esquece daquilo e sai. Mais tarde, o marido dela entra no orkut com a senha dela e descobre o colega listado nas paqueras dela. Sim, quase deu divórcio. Mas o debate feito em cima da situação foi: de quem foi a culpa deste mal-entendido? Aí vieram várias opiniões, mas basicamente o que se apontou foi: falta de usabilidade no botão, que não diz de cara pra que serve exatamente; perigo de burocratização de processos com o intuito de proteger usuári*s de fazer porcaria; dificuldade de usuári*s assumirem responsabilidade pelos seus atos e omissão na hora de ler termos de privacidade, uso do site etc.; e problemas no "lagalês" que permeia a linguagem das políticas de privacidade dos serviços. Enfim, o assunto dá muito pano pra manga.

Assim que termina o debate, subo para o auditório de cima para ver a palestra do amigo Paulino Michelazzo - CMSs livres: não reinventando a roda no desenvolvimento web (que pode ser acessada aqui). Também chego no meio, pois a grade de programação tem horários sobrepostos. Mas isso não é problema, pois de cara já consigo perceber que o Paulino tem a mesma visão que eu sobre o uso e o ensino de tecnologia: de que uma escola não deve, por exemplo, ensinar Java, mas ensinar programação orientada ao objeto. E que quem programa não deve focar no uso de apenas uma linguagem, mas sim na qualidade de seu algoritmo. Em tempos de renovação do portal Estúdio Livre, foi uma bênção encontra-lo. Por isso não tive dúvidas: logo que termina a palestra, convido-o para almoçar.

Vamos então ao Pantagruel, junto com Alexandre Pesserl, sua esposa e filho, comer uma deliciosa feijoada. O lugar é encantador, literalmente o quintal de uma casa. À sombra das árvores, numa tarde ensolorada, conversamos sobre os mais diversos assuntos. Descubro que Paulino viveu no Timor Leste por um ano, trabalhando em um projeto vinculado à ONU. Quando voltou, abriu uma empresa que trabalha com diversos tipos de CMSs, e não apenas um. Segundo ele, está nadando em uma piscina olímpica sozinho, pois nenhuma empresa brasileira hoje tem esta diversidade. Conto a ele então sobre a atual situação do ambiente digital do Estúdio Livre, do prêmio Ponto de Mídia Livre que conquistamos e de nossa vontade de melhorar nossa interface. E, sabendo de sua vasta experiência com ferramentas de gerenciamento de conteúdo, pergunto sobre o preço de uma consultoria sua para sugestão de melhoria no CMS de nosso portal. Ele responde que este tipo de coisa para projetos livres ele não cobra. Que só cobrará caso precise codar algo, mas também não sabe se a empresa dele poderá assumir o projeto. Em tempos de crise, trabalho para quem lida com tecnologias livres de tudo, inclusive de pagamento de licenças, é o que não falta! ;-)

Neste ponto tenho de parar o relato porque o Fernando Severo chega e temos que editar as entrevistas do projeto Contestado. Infelizmente, o Estúdio Livre não permite salvar rascunhos em seu blog, e eu sou obrigada a publicar o que escrevi até o momento para não perder o conteúdo (muito empenho salvar em outro lugar e mandar pra mim mesma via email). Resultado: o blog gerou o feed de um post incompleto. Por isso apago, o post anterior e colo o texto em um novo, para o feed ficar correto. Ou seja, mais um problema grave de usabilidade de nosso site... :(

No final do almoço, converso com o Alexandre sobre garantir que o termo estúdio livre possa se propagar como conceito, assim como o software livre e a radio livre também se propagaram. Ele sugere então que se registre uma marca de certificação, e assim evitamos que façam conosco o que a FGV fez com o Balbino em relação ao termo Criei Tive Como que ele abrasileirou de Criative Commons (registraram o termo sem consulta-lo). Achei uma boa idéia. E mais uma boa pauta para o encontro de estúdios livres no FISL.

Como as palestras da tarde são mais voltadas ao mercado, por não serem tema de meu interesse e por ter compromisso marcado (como comentei acima, tenho de editar as entrevistas do Contestado), não volto ao evento. Mas só o que rolou pela manhã e se enganchou no almoço já valeu o encontro. Foi um bom dia... :)

tags: curitiba, encontro, web, evento, design, edted

enviada por: fabs em: 00:23 - 07/06    |    permalink    |    0 comentários    |    comentar