Blog: Mundo em Fúria


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Última modificação em: 15/01/13 - 13:11     Fonte RSS

Notas de Epistemologia Fugás

::"The reason we don’t see the source of our problem is that the means by which we try to solve them are the source”

(Thought As a System -David Bohm)::


Todas as grandes e pequenas personalidades que lançaram grandes e pequenas idéias que nortearam os caminhos da história da humanidade, se já não foram refutados e até esquecidos, provavelmente um dia serão. Não porque suas idéias perderam coerência. Mas sim porque apenas eram coerentes a uma visão de mundo que será superada, carregando consigo para o fim, todas as suposições que sustentavam tais ideias.

Essas palavras que escrevi representam uma idéia que muitos já escreveram em suas próprias palavras. Isso que falei, também um dia perderá coerência com as percepções atuais desse dia que virá, serão outras épocas, sejam elas quais forem. Imaginar as formas dessa possibilidade muito me fascina.

Se examinarmos o conceito de perenidade, ou mais ainda, de preservação pela eternidade, o que tem disso o ser humano?

Alguns pensadores de meu tempo sustentam que nem o corpo físico, assim como é, sempre será. Sejamos como meros portadores de memes, como quer Richard Dawkins, sob mutações darwinianas, sejamos como integrantes de “raças humanas” que se sucedem em grandes eras akashicas, como dizem os modernos de orientação gnóstica.

A idéia de essência imutável, se aplicada ao ser humano, seria o quê? Apenas uma idéia e, portanto, refutável?

A idéia de transitividade em processo, como sugeriu Heráclito, seria um universal para Platão?

Enquanto isso, procuro ir sendo o que vou percebendo. Aliás, desconfio que, por mais que se fale por aí, poucos se dão conta do que significa (além de ser politicamente bonitinho) aquele pensamento de Gandhi sobre ser a mudança que queremos ver no mundo.

tags: epistemologia, paradigma

enviada por: steixeiradecarvalho em: 13:11 - 15/01    |    permalink    |    comentar

A percepção do maravilhoso

Quando se diz que as coisas são de um jeito, querendo se dar conta do estado do mundo, postulo que isso seja uma tarefa impossível. O mundo não é de um jeito. Ele é revelado de um jeito. Revelado para o sujeito que observa. O estado do mundo então, é uma apreciação subjetiva.

Podemos considerar o entendimento do mundo, preliminarmente, a partir de duas classes de manifestação de fenômenos.

Primeiro há a manifestação que ocorre no mundo e que se trata de absolutamente tudo o que acontece. Entre tudo o que acontece, está a observação dos sujeitos conscientes do mundo e todas as manifestações imateriais disso decorrentes. Essas manifestações todas retroalimentam o estado do mundo num processo contínuo. Poderíamos até fractalizar arbitrariamente as observações de forma a agrupa-las por categorias e níveis e ainda assim isso não daria conta de tudo o que acontece, considerando o observador como não omnisciente. Permaneceríamos num meio caótico, sem nexo aparente.

A outra classe de manifestação é aquela de comunicação daquilo que acontece. Não há comunicação sem que isso não sirva para alguma coisa. E, é claro, também não há comunicação sem que haja um sujeito que seja alterado por ela, isto é, para que exista comunicação é preciso que algo que tenha acontecido modifique o estado de um observador, o sujeito da comunicação. É preciso que esse sujeito comporte-se, mesmo que imaginariamente, de forma diferente do que fazia antes da informação proveniente da manifestação da comunicação. Se um sujeito não foi afetado, mesmo que minimamente por uma informação, é porque não houve comunicação.

Pode-se discutir que se não houve comunicação é porque também não houve manifestação. Não houve nenhuma diferença de estado manifestada no mundo. Pelo menos no mundo do sujeito. Quando se trata de pessoas, esse mundo do sujeito não é completamente particular. É um mundo em processo coletivo. Uma diferença que afete uma pessoa tem impacto de algum grau em outra. O sujeito desse processo é uma consciência.

Contrariando o que dissemos preliminarmente, a consciência é, sim, omnisciente.

Havíamos estabelecido, e vamos já desestabelecer, a existência de duas classes. A manifestação propriamente dita e a manifestação da comunicação dessa manifestação.

Mas podemos ter também a comunicação da manifestação da comunicação. Essa também pode ser comunicada. O processo então é infinito.

Se nos dirigimos àquela primeira manifestação, a qual nós chamamos de primeira classe de manifestação, ou seja, àquela que originou a primeira comunicação, podemos ver que ela também pode ser considerada uma manifestação de comunicação de alguma coisa que veio antes. Tudo o que acontece, acontece porque algo diferente aconteceu antes. Esse algo tem que ser diferente, senão nada perceberíamos que tivesse acontecido. A história do mundo, dessa forma, é um encadeamento de mutações. É um encadeamento de diferenças que vão fazendo diferença.

Mas esse mundo do qual falamos, esse mundo em eterna transformação, só existe para alguém que pode observa-lo. Aquilo que uma consciência não pode perceber, isto é, aquilo que não faz diferença, mesmo que seja infinitesimamente sutil, não existe para essa consciência.

Aqui estamos a falar então de consciência. Uma entidade abstrata que percebe diferenças e age em função disso para gerar mais diferença.

Como dissemos antes, se aconteceu algo que foi percebido pela consciência, se aconteceu uma manifestação, uma diferença, é porque isso faz parte de uma corrente de ação da qual a consciência faz parte. É o que tem significado.

Para que um encadeamento de diferenças, isto é, uma manifestação, tenha um significado, é preciso que isso seja operacional. É preciso que sirva para alguma coisa. É preciso que tenha um propósito. Esse propósito, para o qual serve o significado, é atribuído pela consciência. Pelo sujeito da manifestação. Então a consciência tem arbítrio. Tem também algum tipo de intensão com a qual se relaciona com o objeto do arbítrio, com o significado atribuído à manifestação.

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enviada por: steixeiradecarvalho em: 12:34 - 15/01    |    permalink    |    comentar

Coisas e Fluxos

Parece óbvio, e Heidegger colocou isso de forma poética, atualizando o pensamento Heraclitiano, vivemos um universo preenchido de coisas que estão... coisando. Somos cercados de coisas, aqui, ali, agora, daqui a pouco... Se, por algum motivo (seja um emotivo ou alguma razão) queremos saber de uma coisa, então a discriminamos. Estabelecemos contato com essa coisa. Percebemos essa coisa.

Aí, veio Latour, numa linha pós-moderna com sua Teoria Actante-Rede?, e nos diz que um outro nome para coisa é pontualização, ou seja, uma confluência de várias outras coisas formativas, de diversas naturezas, que se cruzam e que definem a coisa. E que, quando focamos a coisa, podemos abrir então uma caixa preta e descobrir, só nesse momento de interesse, do que ela é formada. E veremos aquilo que confluiu e continua confluindo, alimentado pelos fluxos formativos históricos e materiais que dão identidade à coisa.

Quando usamos deliberadamente uma coisa, estamos mobilizando esses fluxos, sabendo disso ou não. Se sabemos, nossa responsabilidade aumenta.

tags: heraclito, heidegger, latour, responsabilidade

enviada por: steixeiradecarvalho em: 21:23 - 04/01    |    permalink    |    comentar

Os Objetivos e os Objetos

Consciência pode ser considerada como sendo o núcleo, o mais íntimo, o fundamento que caracteriza ser humano. Aquilo para o qual serve todos os sentidos de que é provido o ser, incluído entre os sentidos, o pensamento.
Realidade pode ser considerada como tudo aquilo que é sentido e levado à consciência.
Com alguma arbitrariedade, dessa forma escolhemos alguns conceitos convenientes – nomeadamente a consciência, os sentidos e a realidade manifesta, para representar entidades fundamentais, sobre as quais procuramos explicar tudo o que acontece.
Continuaremos com essa hipótese, iniciada com a declaração dos três elementos iniciais e articularemos tais entidades sob uma ordem:
Existe uma realidade, ou algo que acontece; Existem sentidos, isto é, meios para que se apreenda o que acontece. Talvez não tudo o que acontece, mas só parte, aquilo que os dispositivos que provêem os sentidos estão aptos a capturar e levar à consciência; E existe a consciência, o que dá significação ao que os sentidos “trazem da realidade”, que organiza de forma significativa para alguma finalidade, um conjunto de manifestações percebido.
Ampliando um pouco o cenário, da multiplicidade do que ocorre, uma entidade, que é um ser humano, percebe uma quantidade encadeada de fenômenos. E só percebe o que serve para alguma coisa, independente dessa coisa poder ser formalmente declarada. Tem o ser humano, como agente da realidade, de responder a disposições de consciência que impelem à observação seletiva de classes de fenômenos.
Tudo isso também pode ser usado como uma ficção. Três personagens: Um depósito de recursos, a realidade; um meio de acesso, os sentidos; uma entidade de contextualização, a consciência, esta tomada em uma acepção individual. Podemos contar muitas histórias usando essas personagens. À medida que tais histórias se desenvolvem, observaremos também padrões de relacionamentos entre as personagens. Recorrentemente, enquanto agimos, geramos também elementos de manifestação que passam a pertencer à multiplicidade de fenômenos da realidade e também poderiam ser categorizadas em padrões.
Se pudermos formular um sistema no qual, a partir da configuração de certos padrões, outros ainda pudessem ser previstos, talvez obtivéssemos dessa forma, um método coerente de comunicar os acontecimentos do mundo. Mais ainda, de manipular os elementos para satisfação de disposições de consciência, enfim, estabelecer uma heurística para essa satisfação.
De fato é isso que a humanidade tem feito por meio de seus registros filosóficos, com mais intensidade, nos últimos quatro séculos.
Uma forma foi armada para que, em se elegendo necessidades a serem satisfeitas, encontra-se, ou busca-se encontrar, respostas para tal satisfação. Os roteiros de nossa história, como numa brincadeira, estão sendo construídos em torno de delimitação de contextos e de levantamento e correlação de fenômenos correspondentes a esses contextos. O contexto é sempre o de um objetivo a ser alcançado. Os padrões de manifestação são os objetos a serem articulados. São objetos, não somente materiais imobilizados, mas também os processos padronizáveis para a imobilização material. Dessa forma, com um sistema de objetos articuláveis, erigimos como humanidade, um edifício de técnicas de administração de recursos nos âmbitos econômico, cultural e normativo, onde se vive para o atingimento de finalidades. O pensamento nessa tradição, cultivado como doutrinário, impele o agir moral como direcionado de forma declarativa a objetivos.

tags: objetivos consciência alma

enviada por: steixeiradecarvalho em: 18:29 - 04/11    |    permalink    |    comentar

PANORAMA

Linguagem é um instrumento de registro e reprodução. Usamos linguagens para representar eventos na forma de códigos e então usar essa representação para dar conhecimento desses eventos, mesmo que ocorridos apenas em pensamento, em um tempo futuro ou em um lugar distante.
Daquilo que percebemos e somos motivados a comunicar, abstraímos características que, em contexto, nos interessam. São as formas de variação naquilo que se apresenta aos sentidos que caracterizam primariamente os fenômenos que percebemos. Por exemplo, da multitude de imagens, em princípio caótica, que desfilam ao nosso olhar, podemos ver linhas, pontos ou composições de linhas e pontos delimitando regiões coloridas, antes de percebemos qualquer nexo nas formas do ambiente. Se não houvesse variação, tudo seria plano, uniforme, monocromático, monotônico. Só percebemos alguma coisa quando há uma variação nessa uniformidade espacial. Quando um padrão de variação é recorrente, por exemplo, um círculo ou um triângulo equilátero e, principalmente, nos serve para algum uso, normalmente damos nome à forma percebida. A linguagem falada surge então para descrever os fenômenos que ocorrem. É formada sobre um conjunto de códigos, que são as palavras. Palavras são associadas a padrões recorrentes de formas. Formas não são atributos apenas de fenômenos espaciais. A palavra falada ou mesmo a frase musical são variações padronizadas de percepção temporal. Aromas característicos, impressões táteis, variações em qualquer dos sentidos podem também compor linguagens, isto é, comunicar fenômenos de forma organizada deliberadamente.
É curioso observar que em determinada cultura, as palavras mais usadas indicam os fenômenos mais recorrentes e são os códigos mais simples (ou curtos, no caso da palavra falada ou escrita). Por exemplo, em muitas sociedades é bastante usual que seus membros concordem ou discordem de assuntos comuns. Tão usual que, na maioria das culturas atuais, as palavras equivalentes a “sim” e “não” são muito curtas em relação às outras da língua. Já para situações mais raras, por exemplo, doenças, os nomes tendem a serem maiores. Para situações raríssimas, muitas vezes nem existem vocábulos, usando-se então palavras compostas. O que é interessante nessa observação é que se um povo tiver que dar nome a cada fenômeno potencialmente perceptível em sua cultura, sua linguagem seria impraticável. Por outro lado, se o povo tem poucas palavras, poder-se-ia imaginar certa pobreza de percepção. Isso é válido para códigos formalmente bem definidos, como palavras escritas com um conjunto finito de letras. Pode haver grande riqueza quando se varia a entonação segundo indicação emocional para cada situação onde uma mesma palavra ocorre, isto é, uma mesma palavra pronunciada com entonações diferentes ou escrita com tipologias diferentes, teriam significados diferentes.
Se podemos traçar especificidades para linguagem falada, linguagem escrita ou mesmo outras linguagens dependentes de percepções sensoriais, como tato, olfato, etc. é natural que imaginemos que linguagens podem ser adequadas a meios fisiológicos. A cada meio fisiológico podem ser atribuídos sistemas dimensionais. Para a visão, podemos lançar mão de sistemas que consideram altura, largura e profundidade. Para a audição, o tempo é uma dimensão fundamental. Menos conhecidos formalmente são as dimensões para outros órgãos sensoriais, embora possamos falar sobre notas de aroma, tipos de sabor, texturas, etc. O importante é notar que quando falamos em dimensão, procuramos um meio para expressar uma variação e daí identificar, pelo padrão de variação, uma forma que seja significativa para a ação humana.
Uma das características do ser humano é a mediação consciente (ou a sua possibilidade) que ele faz entre aquilo que percebe e como ele usa o que percebeu para agir.
Sendo o ser humano um ser social, sua ação tem, obviamente, consequências sociais. Além disso, as interações sociais são mediadas por símbolos. Sendo assim, é erigida uma “visão de mundo” a partir da experiência do povo que constitui uma cultura e essa visão é comunicada por uma ou várias linguagens.
A visão de mundo é um tecido tramado com o encadeamento de experiências, ao qual atribuímos nexo, e chamamos de narrativa.

tags: linguagem, narrativa, epistemologia

enviada por: steixeiradecarvalho em: 11:12 - 04/09    |    permalink    |    comentar

Em Busca de Nexo

A História da Arte é também a história da evolução do olhar sobre a natureza. Obras de arte atestam estados de consciência peculiares. Peculiares às épocas, aos povos, à pessoa individual.
Quando falo em “evolução do olhar”, quero significar com isso a forma como consideramos, pela consciência, os estímulos sensoriais a que nos submetemos, criando e recriando, selecionando e reselecionando, e aos quais nós damos nexo.
Percebemos aquilo a que somos “formados” para perceber. Não só de forma conceitual, mas também fisicamente. Fosse o olho capaz de perceber só um pouquinho além da faixa de frequência do espectro considerado como visível (do vermelho ao violeta), ou o ouvido pudesse ouvir também fora dos habituais 300-3300 Hz, provavelmente o mundo das ações e os artefatos que usamos seriam bem outros. Talvez o mundo fosse completamente diferente.
E pela criação e uso de artefatos e dispositivos, de novo, não só físicos como também conceituais em mútua relação, vamos retroalimentando aquilo que percebemos do mundo e complexificando essa relação.
Arte é uma manifestação de revelação. Revelação induzida por conceitos a partir do que é percebido na “realidade” da qual autor e expectador participam. “Realidades” induzidas a partir dessa atividade de conceituação.
Por exemplo, algumas formas reveladas explicitamente pela arte renascentista europeia, como a perspectiva ou as regras de proporção, são sintomas de um “acordar” para um mundo dinâmico, onde passa a haver a necessidade de se lidar com variações, e variações sobre variações, no mundo das práticas. Passa a ser significativo também, o tratamento de uma dimensão cronológica mais precisa. A música e, associada a essa, o tempo cronológico, passa a ser codificado. O cálculo diferencial é desenvolvido, assim como os sistemas de campos de força, como a gravidade. Tais características fenomenológicas não seriam percebidas se não houvesse uma circunstância crítica transformadora ligada a um “modo de fazer” para que esse estado de coisas se formasse.
Da circunstância crítica transformadora da atualidade participa, acho evidente, o computador. O computador, como máquina de processamento de códigos e de representação, amplifica exponencialmente a capacidade de criação conceitual. Um campo fértil para as artes.
A chamada “ubiquidade” do computador dilui a fronteira ente autor e expectador de arte. A arte, para além dos suportes tradicionais, adquire feições coletivas, performáticas, dinâmicas e, muitas vezes, efêmeras. Seus resultados, menos orientados para a participação contemplativa, abrem-se para a criação coletiva. Uma criação coletiva que prescinde de uma linguagem comum. Uma linguagem que permita a exploração e a comunicação conceitual a partir das percepções de mundos particulares, a partir da apropriação das manifestações no mundo.
Da Furiosa Manifestação do Mundo distinguimos elementos. Estes podem variar segundo a ocasião, segundo a circunstância daquele que distingue: o sujeito.
Ao distinguirmos elementos, é por que os separamos uns de outros. Atribuímos um início e um fim àquilo que observamos. O início é o momento (ou o lugar) em que algo se diferencia de um precedente para assumir uma identidade em relação a um observador, o sujeito. O fim é quando esse algo deixa de receber o foco da atenção do observador, ou por que passa a ser visto associado com algo observado subsequentemente ou por que o foco do observador passa a outro algo completamente distinto. Só percebemos elementos por que percebemos diferenças. Por que percebemos mudanças.
As distinções de elementos acontecem dentro de domínios dimensionais. O espaço é um domínio dimensional. Nele distinguimos coisas que têm comprimento e largura, que têm volume – as identificações com formas geométricas. No espaço distinguimos qualquer elemento que varie para os nossos sentidos conforme o lugar. O tempo (cronológico) é outro domínio dimensional. No tempo, as coisas têm instantes. Momentos de mudança de estado, duração, momentos de início e de fim.
Há variações o tempo todo. Há variações no espaço inteiro. Se não houvesse, nada perceberíamos. Nada aconteceria. Podemos conjecturar que só há existência por que há mudança.
Para lidar de forma prática em um mundo de infinita enormidade de mudanças possíveis usamos técnicas de seleção e categorização de objetos.
Dentre todas as coisas que percebemos, algumas acontecem de certo jeito com mais frequência. Em outras palavras, algumas formas acontecem recorrentemente, isto é, a mesma (ou semelhantemente) forma se repete ocasionalmente. Se o uso consciente de algo percebido é recorrente em uma cultura, esse algo vem a receber um nome. Um nome identifica um padrão.
Pode haver certo padrão, certa compreensão de coisas, que não seja relevante em uma cultura a ponto de não ser sequer considerada cotidianamente (percebida como unidade para algum propósito). Pode também ser que o contexto de uso para uma mesma coisa não seja igual em duas situações diferentes, levando a identidades diferentes. Pode uma coisa ainda receber uma identificação subjetiva. Pode haver padrão que não tenha sido ainda percebido ou considerado.
Nas práticas da comunicação cotidiana, somos habituados a um “vocabulário” normal. Padrões fixos e limitados de perceber fenômenos e de modos de organiza-los. Embora muito disso seja arquetipal e útil, muita riqueza está além disso, esperando nosso próprio arbítrio.

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enviada por: steixeiradecarvalho em: 12:29 - 03/09    |    permalink    |    comentar

A Percepção do que Acontece I

Se estivermos interessados naquilo que acontece, estamos então a observar a vida. E o que acontece são ações de transformação. O mundo poderia ser considerado um palco para coisas absolutamente colocadas em seus lugares fixos. Mas só é assim se imaginarmos a possibilidade de retratarmos a percepção em um instante. Um lapso infinitésimo de tempo. Todo que há no mundo sofre a ação de algum agente, seja essa natural ou intencional. No caso da ação intencional, isso só é possível aos humanos. Tudo o mais, aquilo dos reinos mineral, vegetal e animal irracional estão submetidos a determinações de ordem sob os quais seus integrantes não têm controle voluntário.
O mundo é assim um sistema em constante transformação. Todas as coisas que nele existem têm suas disposições relativas modificadas ao longo do tempo.
Quando percebo uma manifestação, percebo entidades em manifestação, ou seja, produtos das agências, ou ainda, resultantes das atuações de agentes.
Tudo o que é potencialmente perceptível é algo que pode fazer com que o ambiente, mesmo imaginário, seja de um jeito em um instante e de outro jeito em outro instante. Existe uma fronteira entre o antes de acontecer a percepção e o instante da percepção. Ao notarmos esse contraste, podemos dizer que aí ocorreu um acontecimento, podemos dizer que aconteceu uma coisa. Não se pode perceber o nada, a menos que o contrastemos com alguma coisa. Mas aí, já não é mais o nada. É alguma coisa.
Quando identificamos uma forma no mundo, é porque isso é algo que “faz sentido”, algo que mobiliza nossa atenção. Não acontece fortuitamente. Porque então, dentre muitas e diversas formas nas quais estamos imersos, prestamos atenção em umas e não em outras em um momento, e em outras e não em umas, noutro momento? Isso é uma questão de contexto. No mínimo o contexto bem amplo de preservação da vida.


tags: epistemologia, mundo em fúria

enviada por: steixeiradecarvalho em: 12:26 - 03/09    |    permalink    |    comentar

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