Principais dificuldades da Cultura Digital no Centro-Oeste:
Durante o 1 semestre de 2007, foi desenvolvido o contrato-tampão da Acão Cultura Digital com o IPTI que presta serviços para o PNUD, que presta serviços ao MinC. As atividades realizadas durante os primeiros meses, partiu dos esforços de cada bolsista que acredita no projeto, pois todos estavam sem receber nada até abril de 2007. As atividades realizadas foram prejudicadas em muito, pois as condićões mínimas para seu desenvolvimento não foi assegurada.
A Cultura Digital é uma ação inovadora, e para realizar um projeto de grande potencial, precisa haver respeito e reconhecimento das atividades e do trabalho desempenhado, de modo contrário, prejudica todo o processo e condições das pessoas envolvidas.
No Brasil Central realizamos alguns planejamentos, que por falta de recursos disponíveis na data, tiveram que ser cancelados ou as atividades foram adiadas.
O Programa Cultura Viva e os atores Culturais envolvidos possuem enorme potencial. É um programa inovador, entretanto, as pessoas envolvidas não podem ser prejudicadas por falhas e descaso nos procedimentos burocráticos que o Programa propõe, mas ainda não vive. Contamos com o esforço de muitos para que essa situação fosse resolvida, entretanto, das pessoas que dependíamos não. O investimento em ação e projetos não se dá apenas no discurso, mas pelo conhecimento, respeito e valoraćão do que se é feito. Respeito e valoração que provem do conhecer. Conhecer o que foi feito. Dentro desta perspectiva, pretendo relatar tudo para que vcs tb saibam os processos pelos quais passamos como cultura digital.
Em item tb:
- demora/falta de verba para o repasse do recurso
- Atrasos de salários
- Falta de equipamentos
Processo enriquecedor da Cultura Digital no Centro-Oeste:
A Cultura dentro do país tem esferas enormes e o Programa Cultura Viva busca incentivar essas esferas e ações. Durante os anos em que estive trabalhando com a Cultura Digital, tive compreensão de vários processos culturais. De como cada pessoa age com a realidade e enriquece a realidade de outras várias pessoas.
Aprendi como é forte o poder do agente, sim, do singular dentro do coletivo, pois o coletivo só vive e existe repleto por singulares. Nasci on-line, por emeio, página, uma resposta, um chat, a superação do olho no olho ou do som de uma voz, conheci, conheço e amei pessoas sem nunca as ter visto e claro o contrario tb aconteceu.
Cultura digital.. é um mundo como todos os outros. Nasci e estou vivendo conhecendo pessoas de diversos locais e de diversas esferas pelo país, pessoas que acreditam em suas ações, que acreditam que podem realizar um enorme diferencial e que se juntam para unir esforços e formam coletivos. Aprendi muito com essas pessoas durante o tempo em que estive como Cultura Digital, em que estive como Estúdio Livre, em que estive como Ponto de Cultura, em que estive como Josi da CEI, em que estive como Josiane da UnB...
Reuniram-se na cidade de Goiânia - Goiás, no ponto de cultura Eldorado dos Carajás, nos dias 28 e 29 de abril de 2007, representantes dos pontos de Cultura do Centro Oeste (Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), com a participação tanto dos pontos de cultura conveniados, selecionados e habilitados quanto de outras organizações da sociedade civil que trabalham com inclusão social e cultura. O principal objetivo é ampliar o diálogo entre os próprios pontos e destes com a Secretaria de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura, para a identificação de diferenças e semelhanças regionais e consequente avaliação do Programa Cultura Viva.
No programa do encontro estava em pauta conversas sobre: o que é a região Centro Oeste; a articulação horizontal entre os Pontos de Cultura; a articulação vertical com o Ministério da Cultura; o Prêmio Cultura Viva; e a autonomia dos Pontos. Durante as prosas, vivências, trocas e reflexões, alguns outros temas foram entrando na pauta.
28 de abril
MANHÃ
Apresentação dos grupos
Começamos o encontro em roda decidindo como seria a coordenação das falas, a administração do tempo, quem iria secretariar e quem faria o relato do encontro. Os voluntários foram: para coordenar, Diego, que trabalha com Cultura Digital e é colaborador do Cento de Mídia Independente; para secretariar, Joana, do Movimento Rua do Circo; e para relatar, Luciana, do Ponto de Cultura Invenção Brasileira, e Ana Lúcia, do Centro Cultural Eldorado dos Carajás. Assim acertados iniciamos as apresentações dos grupos presentes:
Pontos de Cultura Conveniados
- Centro Educacional de Pirenópolis (COEPI) - Pirenópolis - GO
- Participantes: Vera Lucena, Patrícia e Alex.
- Ver e Ser Visto - Aparecida de Goiânia - GO
- Participantes: Diracy, Marilia, Ana, Aparecida e Daniel
- Invenção Brasileira - Taguatinga - DF
- Participantes: Luciana, Leandro, Diego, Walter e Hauni.
- Rede de Ação Cultural do Gama - Gama - DF
- Circo, Boneco e Riso - Águas Lindas - Go
- Participante: Ronaldo e Silvio
- Ciranda Digital - Cuiabá - MT
- Ponto de Cultura conveniado
- Cooperativa Brasiliense de Teatro - Brasília - DF
- Participantes: Joana Abreu, Laura Cavalheiro
- Pontão República do Cerrado - Goiania - GO
- Participantes: Virgilío e Vitor
- Cia Articum - Taguatinga - DF
- Associação Caraíba FM - Rubiataba - GO
- Participante: Waldir Barbosa
- Associação Familiar da Comunidade Negra de São João Batista - Campo Grande - MS
- Participantes: Rosana e Paulo
- Centro Cultural Eldorado dos Carajás - Goiânia - GO
- Participante: Ana Lúcia, Lucas, Marcos
- Bumba Meu Boi D'Água - Olhos D'Água - GO
- Resistência Criméia - Goiânia - GO
Pontos de Cultura Selecionados
- Escola de Samba Flora do Vale - Goiania - GO
- Circo Escola Lahetô - Goiânia - GO
Pontos de Cultura Habilitados
- Associação Cultural Faísca - Riacho Fundo II - DF
- Participantes: Michel e Adriana.
- Vida e Juventude - Samambaia-DF
- Centro de Tradições e Cultura de Goiás - Goiânia - GO
- Movimento Rua do Circo - Brasília - DF
- Participantes: Ancomárcio e Joana
- Guaimbê - Quintal da Aldeia - Pirenopólis - GO
- Participantes: Luciana e Elias
- Casa de Cultura Antonio Ferreira de Souza - Goiânia - GO
- Entidades Civis de Inclusão Social com Cultura e Arte
- Associação Geral dos Trabalhadores de Cocalzinho - GO
- Participante: Marcos Teles
- Casa da Juventude Padre Burnier - Goiânia - Go
- Participantes: Eunira e Keyla
- Casa de Cultura Oficina A Três - Liga dos Amigos do Jardim Guanabara - Goiânia - GO
Durante a apresentação, os grupos falaram de suas ações, sua história e sua relação com a comunidade. Já foram identificados problemas e questões comuns a todos os Pontos participantes. Foram apontados: a dificuldade de sustentabilidade dos projetos e das pessoas neles envolvidos; " a batalha periodica com o monstro" da prestação de contas; o impasse entre trabalho voluntário e trabalho remunerado dentro dos projetos; e a preocupação com o prazo de vencimento do convênio com o Minc. Outra questão comum foi o problema que a Ação Agente Cultura Viva trouxe para os Pontos de Cultura, pois com o atraso das bolsas, os projetos ficaram desacreditados dentro das comunidades. Também foram muitas as conversas sobre a angustiante condição de Ponto de Cultura Habilitado, já reconhecido pelo mérito cultural, mas sem previsão de efetivar convênio.
TARDE
O que é a Região Centro Oeste? Como nos Articular horizontalmente?
Para dar inicio a conversa sobre quem somos enquanto região Centro Oeste, foi convidada a Profª Drª Nei Clara de Lima, diretora do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás. Em sua fala a professora propôs responder à pergunta a partir de uma abordagem cultural do conceito de região e de identidade regional, tanto coletiva, quanto individual. Lembrou o valor das construções simbólicas envolvidas na constituição dessas identidades, e as raízes históricas dos discursos difundidos entre nós usados para se referir ao interior do país, à região e ao seu povo. Alertou sobre as desqualificações, os exotismos e as construções negativas que giram em torno da figura do sertanejo, do interioriano e da sua terra. Destacou também as relações de poder e o peso ideológico que perpassam esses discursos, a visão dominante evolucionista que supervaloriza as culturas do homem ocidental cristão branco, em detrimento de todas as outras matrizes culturais do Brasil.
Antes mesmo de concluir sua fala a professora abriu espaço para outras discussões levantadas na roda a partir das inquietações dos grupos. Os principais pontos em torno dos quais girou a prosa foram: as relações burocráticas com o Ministério, em especial a prestação de contas e a nossa articulação horizontal.
Foi discutido se o Programa Cultura Viva estaria atendendo as necessidades culturais das comunidades, em que medida estaria cumprindo com o seu papel de dar voz a população, de fortalecer o fazer da comunidade. Questionou-se se os modelos burocráticos estatais não formam barreiras para as culturas populares se relacionarem com o Programa? Ainda existem estruturas dominantes que são impostas de cima para baixo. Uma possível solução para essa imposição seria o fortalecimento da organização popular junto a sociedade civil, para pressionar/sensibilizar a burocracia estatal para a possibilidade de se abrir para as nossas formas de organização, que não são padronizadas e sim dinamicas e plenas em diversidade.
No debate surgiram dois pontos de vista: Primeiro foi colocado que devemos nos apropiar dos modelos dominantes, absorvendo as possíveis contribuições, e ao compreendermos os códigos, buscar inserção nos espaços elitizados para mostrar que existem outras possibilidades de administração, formação, de vida, visando uma integração solidária entre as esferas sociais.
Um segundo olhar colocou que mais do que essa apropriação é fundamental a valorização da força e da resistência da cultura popular a séculos de opressão, e compreender que ela oferece possibilidades tão elaboradas e eficientes de vida como as que pretensamente a cultura dominante diz oferecer. "Não são os mestres de capoeira que tem que colocar ternos e aprender a fazer planilhas de prestação de contas, a proposta é que os senhores representantes do poder público entrem gingando na roda, falando a língua que os mestres dominam."
Foi comentado também que muitos artistas tem gastado mais energia com a elaboração de projetos e planilhas do que com as ações em si. No esforço para se encaixar nos modelos burocráticos, acabam se especializando em administração cultural, e deixam o fazer da ação, em segundo plano.
Nessa altura da conversa outra questão surgiu: Autonomia é se desvincular do estado? Queremos romper com o estado ou nos colocar diante dele? De que maneira podemos direcionar a administração publica para as nossas necessidades?
Foi então compartilhada a história do Ponto de Cultura Boi d'água, lembrando que o Programa veio otimizar ações que já aconteciam. A proposta do Cultura Viva é fortalecer ações são realizadas na comunidade, com a comunidade e para a comunidade.
A antropóloga manifestou-se para ressaltar também a necessidade de se pensar na importância do que está sendo feito, de se pensar e refletir sobre a complexidade da culura, os discursos e as relações de poder que ela envolve, e o seu potencial de transformação.
Atentos para os temas que estavam na pauta, redirecionamos a conversa pensar soluções e fazer propostas. Sobre o problema da burocracia da prestação de contas foi sugerido:
- a utilização de outras formas de fiscalização, como visitas de avaliador, registros audiovisuais e etc;
- a formulação de leis especificas que atendam as necessidades dos pontos de cultura e respeitem as diferenças e as diversas realidades locais.
Na conversa sobre a nossa articulação horizontal foi colocado a importância de se mobilizar horizontalmente para avançar nas discussões com o Ministério. Para essa mobilização é preciso fortalecer uma rede na internet que cumpra com o seu papel de informar. No entanto a internet não supre à demanda de debates, discussões e construções coletivas de propostas, para isso é fundamental dar seqüência nos encontros regionais semestrais e fortalece-los, inserindo-os nos planejamentos dos projetos.
Destacou-se a importância dos Pontos de Cultura do Distrito Federal representarem e falarem em nome dos outros Pontos e do coletivo, ja que estão próximos aos contatos do Ministério, podem mobibilizar e agendar reuniões diretamente com a SPPC para discutir problemas e soluções.
Uma crítica ao Programa foi reforçada: Os pontos de cultura não podem ser frutos de articulações pessoais e lobbys. Foi questionado a má distribuição de pontos no Distrito Federal, e foi dado um depoimento sobre o trabalho do Ponto de Cultura habilitado Movimento Rua do Circo, que atua na Vila Planalto, região periférica do Distrito Federal.
Uma questão surgiu: Antes do Cultura Viva dependiamos da comunidade para realizar os projetos, agora se depende do estado. Quais problemas isso acarreta? Quais são as implicações? Como fica a relação com a comunidade?
Foi esclarecido que um dos atuais impasses do Programa Cultura Viva é com relação ao conveniamento de novos projetos e à renovação dos convênios com prazo de vencimento próximo, alegando falta de recursos, os possíveis encaminhamentos do Ministério são:
1. Renovar os convênios e só habilitar novos projetos quando tiver novos recursos.
2. Renovar com menos recursos e estender o conveniamento a novos projetos.
3. Não renovar os convênios e habilitar novos pontos.
Será mesmo esse o impasse? A falta de recursos?
Uma solução para os Pontos de Cultura é sem dúvida alcançar autonomia financeira, buscando formas de contribuir em rede para a sustentabilidade um dos outros, como por exemplo, a criação e a circulação de produtos entre a rede de Pontos de Cultura. Um dos desafios de sustentabilidade e manuntenção da rede é a captação de recursos para os próximos encontros regionais.